quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um Nhoque de Batatas.



Uma vez estava em cima da mesa, tinha sete anos e minha mãe cozinhava com uma panela de pressão , um objeto que para mim parecia monstruoso, pesado e medonho, qualquer que fosse sua utilidade, eu não gostava de panelas de pressão, ainda porque minha mãe sempre expressava sofrimento ao manusear, levando da pia para o fogão, ao abrír e quando ao fogo, apitava e soltava vapor girando a válvula a rebolar sobre a tampa parecendo nervosa com todos que a colocaram no fogo.
Já minha opinião sobre o feijão era diferente. Tanto o feijão da minha mãe, quando o da minha avó, apesar de o serem diferentes eram maravilhosos. Naquela época ainda almoçávamos em família, as conversas para mim eram incompreensíveis, mas minha relação com a comida sempre foi boa com exceção do spaguetti. Spaguetti para mim era algo gosmento, vermelho, molhado espirrento e de forte gosto salgado, nunca me foi conveniente comê-lo até aos sete anos, quando fomos para Uberlândia visitar minha tia-avó. Então o spaguetti deixou de ser liso, porque a massa dela era mais consistente e mais áspera, não me lembro do molho, afinal, já se passaram 23 anos! O fato é que aquele evento na casa da minha tia-avó me libertou para o mundo das massas. Contudo, até óntém nunca mais houvera participado de uma experiência como aquela quando experimentei, após 3 semanas de espera, aquele nhoque. Trata-se do nhoque de batatas da batataria. Cada nhoque é um pouco maior que um nhoque comum, talvez por ser de batata, tenha uma liga mais consistente. Mas para falar desse nhoque eu tenho, antes de falar sobre seu aspecto: O prato era um prato branco, simples, nada de sofisticação, eram bolotas amarela-escuras, tingidas por molho oleoso (era alho-olho) com alho picado e frito que conferia um aroma atraente e convidativo. Estava generosamente envolvido com pedaços de brócolis que sabiam dialogar muito bem com o alho, suavizando-lhe a agressividade que colaborava com cubos de bacon. A massa agia para apaziguar mesmo todo esse peso, era robusta, macia, fazia-se sentir as nuances entre a película externa e seu corpo. Até o fim, pude diversificar entre brócolis com alho e o nhoque com óleo, o forte e o fraco até que enfim, acabou. Semana que vem pretendo provar o mesmo nhoque ao sugo e à bolognesa.
Para os que estão dispostos a passar pela mesma experiência, sugiro uma boa cama depois. Esse nhoque não é algo comum! Eu diria que para quem gosta de comer é como ir à um grande show, sem dúvida, uma experiência singular, um divisor de águas. Talvez algo de que se lembrarão daqui a 23 anos.

Henrique Gonçalves Dias Viana